quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Como não ser confundido com um toxicodependente (Parte 1)

COMO NÃO SER CONFUNDIDO COM UM TOXICODEPENDENTE
PARTE 1: Os Opiáceos (heroína ou outros)


Há poucos dias, 150 agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) foram integrados na Polícia Municipal de Lisboa.

Não fiquem com a falsa ideia de que a PSP ficou mais desfalcada.

Consegui apurar que José Sócrates prepara uma inovadora e radical alteração à estrutura das forças policiais.

Tal não passa, nem de longe, unicamente por pôr os "polícias de secretária" a fazer rondas.
Não, a medida vai muito mais além.

E permitirá não só alargar o número de efectivos das policias nacionais, como, indo ao encontro de um dos cavalos de batalha de José Sócrates, diminuir largamente o desemprego, com a criação de milhares e milhares de postos de trabalho.

Mais ninguém a não ser José Sócrates e eu sabemos o que aí vem. Ah, e daqui a muito pouco, todos vocês.

Não vou fazer suspense e levanto já um pouco do véu. Aliás, vai o véu, vai a liga, vai tudo às urtigas!

Aqui vai a "bomba": Nos próximos dias, as forças políciais vão ser reforçadas com milhares e milhares de médicos, enfermeiros, dentistas, estilistas, terapeutas da fala, costureiros, farmacêuticos, relações públicas, psicólogos, senhoras da limpeza, advogados e ortopedistas. E mais, muito mais profissionais das (aparentemente) mais bizzaras profissões.

Não, não sou eu que perdi de vez a sanidade.

Pronto, confesso que não sei se José Sócrates está a par disto, mas é o que depreendo.

É que se não sabem ficam a saber que foi publicado, a 25 de Setembro, o Despacho Normativo nº 35/2007, o "GUIA ORIENTADOR DE INDÍCIOS DE INFLUÊNCIA POR SUBSTÂNCIAS PSICOTRÓPICAS", o qual visa "auxiliar os agentes da autoridade na detecção de indícios indicativos de que o condutor fiscalizado possa estar sob a influência de alguma substância psicotrópica capaz de interferir negativamente na sua capacidade para conduzir com segurança".

Se se quiserem divertir, a versão integral do documento está aqui: http://dre.pt/pdf2sdip/2007/09/185000000/2806628067.pdf

Gosto, desde logo, do preâmbulo do Despacho. Um auxiliar na detecção de "indícios indicativos".
É porque, parecendo que não, pode haver indícios que não são indicadores.
De facto, ela há indícios que são polegares, outros mindinhos, outros...

Depois, o mesmo prêmbulo parece explicar que não é necessariamente proibído conduzir sobre o efeito de estupefacientes. Daí a referência ao "estar sob a influência de alguma substância psicotrópica capaz de interferir negativamente na sua capacidade para conduzir com segurança".
Ou seja, podem tentar alegar: "Ó senhor guarda eu estava podre de bêbado e esta droguita veio interferir muito positivamente na minha condução".

Siga...

A primeira parte do Despacho é dedicada aos consumidores de opiáceos (heróina e outros).

Se bem que alerte para o facto de os indícios constituirem meros indicadores (lá estão os indícios e os indicadores), o Despacho, assinado pelo Ministro da Saúde, Correia de Campos, passa, então, a indicar (ou será a indiciar?):

Primeiro, os estigmas não determinantes.

Destes, os primeiros são os estigmas corporais de consumo.

Que incluem:

"Múltiplas punções nos trajectos venosos, nomeadamente da mão, antebraço, prega do cotovelo, pescoço e pés".
É por isto que eu defendo que vai entrar tanta gente para as polícias. É que, aqui só para nós, estão a ver um GNR, daqueles à antiga, a saber o que é "punção"? Para esses tal não significará mais do que uma sessão de puns, no sofá, ao lado da sua São...
Depois, um dos alvos são os pés. Vão passar a mandar-nos descalçar nas operações stop???

"Sinais de abcessos ou fleimões" também são indícios (indicadores).
É aqui que entra em cena o novo polícia-higienista oral.
Com o que custa a multa, no fundo o fazerem-nos um check-up gratuito aos dentes pode ser visto como uma mais valia...

Também a "higiene oral deficiente" é um indicador. Perdão, um indício.
Por isso, além do que digo acima, tentem não ser apanhados com... pêlos na boca, por exemplo!
Sexo seguro passa assim a a englobar lavar os dentes depois do acto. Ou ainda apanham uma multa de trânsito.

As "múltiplas cáries dentárias" são outro indício. Se conduzir, consulte o seu dentista.

A alínea b) do número 1.1 do Despacho explica aos senhores agentes da autoridade outros estigmas não determinantes, como...

"Colher (habitualmente carbonizada e torcida)".
Mas se não estiver assim, não deixa de ser um indício. Por isso, se andam com crianças no carro, tenham cuidado! O vosso filho pode ser um toxicodependente em potência! Elimine as colheres da sua (dele) vida!

"As caricas de garrafas".
(E o que é que eu faço às que tenho, para o concurso da Sumol???)

"Limão ou fragmentos".
Não queres mesmo ser confundido com um toxicodependente, pois não?
Pois então, quando fores encher a dispensa ao Continente, ao Carrefour, ao Pingo Doce ou ao Feira Nova, evita comprar lá limão.
Nunca se sabe se a polícia não está à espreita à saída (ou, quiçá, um à paisana. Por falar nisso... reparaste naquele indivíduo suspeito, de bigode, no corredor das frutas e legumes?)
Opta por comprar os limões na mercearia do bairro. Mas vai a pé. E compra o jornal, para despistar. Por via das dúvidas, passa para o outro lado do passeio.

Também o "isqueiro, normalmente com a chama elevada", é um indício.
Meus amigos, vai deixar de ser permitido fumar em recintos fechados O carro é um recinto fechado.
Só um toxicodependente andaria com um isqueiro.

Outra coisa gravíssima parecem ser os "fragmentos de palhinhas de sumo".
Ok, já percebemos que o senhor Ministro da Saúde gosta de escrever "fragmentos. É a segunda vez que o faz, em meia dúzia de linhas.
Se és daquelas pessoas que gosta de beber Bacardi Lémon com cola e, depois, andar uns tempitos a mascar a palhinha.. esquece e larga o vício! A partir de agora, é sinónimo de toxicodependência.

Outra falha grave são os "restos de saquinhos de plásticos".
Não arrisque a tentar chegar com eles ao ecoponto! Mande-os, imediatamente, pela janela do carro, e não se deixe apanhar!

A "roupa queimada com cigarros" é outro coisa que agora permite topar, a léguas, um condutor toxicodependente.
Por isso, afasta-te das pistas de dança.
E avisa o teu avô, que costuma adormecer no sofá a fumar. Para além de já quase ter incendiado a casa 3 ou 4 vezes, um dia destes ainda lhe entra uma rusga em casa...

Ainda nos opiáceos, diz o Ministro que o efeito do consumo ou de intoxicação aguda faz ter o seguinte aspecto geral:

Pupilas oculares contraídas (mióticas).
Tentem não as ter demasiado contraídas. Para poderem explicar ao geninho o que quer dizer mióticas, e que esta não é o oculista que tinha o anúncio com o Artur Agostinho.

Discurso lentificado, fala arrastada, sonolência.
Mas, ouça lá, senhor Ministro: se estivesse 3 horas parado numa mega operação, depois de ter saído à noite, não estaria sonolento também?
E a Odete Santos? Por acaso está a chamá-la toxicodependente?

"Sendo dependente, com frequência, apresenta mau estado físico geral".
Com esta é que estamos lixados!
Um polícia tradicional vai controlar dois polícias-personal-trainers, que nos vão passar a obrigar a fazer flexões nas operações stop.
Se não fizeres 50... toxico!

Mas gosto mesmo é do indício seguinte: "Eventual entorpecimento mental (estado de estupor) ou até de coma, podendo também estar agitado".
Estado de estupor? Mas afinal, estamos a falar do agente ou do condutor?
E este é um indício que não deixa dúvidas ao agente. Se está em coma ou agitado, está drogado!
Como é que não querem que uma pessoa fique agitada, depois de nos descalçarem, olharem para dentro da boca e porem-nos a fazer ginástica???

"A pele pálida, arroxeada e húmida" são os indícios seguintes.
Ou seja, os surfistas não são toxicodependentes.
E, no Verão, temos todos mais hipóteses de nos safar num auto-stop.

O "pulso fraco (filiforme)" é mais um indício.
Pelo sim, pelo não, os veículos da BT vão passar a andar com um medidor de tensão, mesmo ao lado da máquina-multibanco.

A "eventual ausência de respiração (apneia)" também dá bandeira.
Se por acaso algum dos vossos amigos morrer durante a noite, façam como naquilo do "condutor 100% cool" e tentem que não seja o morto a levar o carro, para a polícia não o deter por toxicodependente.

Também as "náuseas e os vómitos" podem dar problemas.
Tente não vomitar durante a operação stop.

Ainda nos opiáceos, mas em relação aos indicadores de abstinência ou ressaca, temos, por exemplo:

"Os suores".
Por favor, tome duche à saída da discoteca.

"Crises de espirros".
Agasalhe-se. Ainda apanha uma toxicodepêndência ou é detido por constipação ao volante.

"Insónias".
Desculpem lá... era suposto adormecer DURANTE a operaçao-stop???

(Estes gajos são complicados. Somos presos por ter sono e por não ter)

"Diarreia".
Evite dizer ao policia frases como: "Estou-me a cagar se me vai passar a multa".
Ainda acaba por ter que ir ao hospital fazer exames.

"Confusão mental (desorientação)"
Tente comportar-se durante a operação stop. Evite, por exemplo, perguntar ao polícia fardado: "Ó portas, são dois casais, podemos entrar? Qual é o consumo mínimo?"

NOTA: Para além dos opiáceos, o Despacho Normativo aborda, ainda, os consumidores de cocaína e anfetaminas e os de cannabis.
Porque este post já vai (demasiado) extenso, nos próximos dias falo dos outros dois tipos.
E desculpa a seca...

1 sorrisos:

Tita disse...

bem, nao deste seca nenhuma, mas recusome a comentar pelo simples fcto de que.. ISSO É UM DISPARATE!