Uma semana de terror

A imagem aqui por cima é capa do jornal "24horas" de hoje.

Para mim, infelizmente, a notícia não é novidade. A última semana foi, provavelmente, a pior da minha vida, vítima de um pequeno lapso de memória e dos novos esquemas, cada vez mais criativos e violentos, das empresas de cobranças difíceis.

Tudo começou no fim-de-semana passado.
Fui tomar café a um sítio onde as únicas palavras do dono para me cumprimentar foram as da frase de que tanto gosto "não tem mais pequeno?"
Respondo o que sempre digo nestas ocasiões: "Essa frase persegue-me! Já na cama ela me pergunta isso...".
O trombudo não achou piada. Em tom ameaçador, rosnou um qualquer "Fica a dever (eu, que tinha dinheiro em excesso, ele é que não tinha trocos). Paga amanhã. E ai de si que falhe!"

A verdade é que me esqueci mesmo.
Mas ele não. E, desde aí, a minha vida tem sido um inferno.

SEGUNDA-FEIRA
Vou a sair de casa para ir trabalhar e tenho cerca de 20 membros dos No Name Boys à porta a gritar "E quem não salta, é caloteiro!!!
Uma rotura de ligamentos no tornozelo impede-me de saltar e todos os vizinhos ficam a saber que sou eu o alvo da mensagem.

Chegado a casa à noite, ligo a televisão e tento abstrair-me do que se está a passar. O telejornal já vai a meio e não apanho toda a notícia, mas fico com a certeza de que estão a falar de mim. Por mais anos que viva, nunca esquecerei as palavras de Paulo Bento "Isto é um nojo! Isto já enjoa!"

TERÇA-FEIRA
Novamente a sair de casa, deparo-me com andaimes montado em frente do prédio.
Estão apinhados de trolhas homossexuais, dos quais ainda consigo fotografar estes dois:
Gritam-me frases obscenas como "Ó bom, ó pagas ou apalpo-te o cofre!!!

Já à noite, em minha defesa, acho que ouço no telejornal que piratas somalis ameaçam sequestrar mais um navio petroleiro caso o governo português não tome medidas para nacionalizar a minha conta bancária.

QUARTA-FEIRA
O meu caso é motivo de debate parlamentar!
À noite na tv, Paulo Bento volta a pronunciar-se "Isto é um nojo! Isto já enjoa!"

QUINTA-FEIRA
Chego atrasado ao trabalho por causa de uma manifestação de cerca de 100.000 professores, frente ao Ministério da Educação (portas-meias com o local onde trabalho).
Sou chamado à Administração que me diz que está farta das minhas brincadeiras e que chamar os meus amiguinhos não me serve de nada. Vão-me continuar a avaliar nos mesmos moldes e exigem que pare com as ameaças.

À noite, acho que, em meu apoio, o seleccionador do Brasil, em conferência de imprensa, avisa que se o Governo não intervém para nacionalizar a ninha conta, fará um novo "amigável" contra Portugal.

SEXTA-FEIRA
Recebo um telefonema da Zon.
Simpaticamente, "avisam-me" que ou pago as minhas dívidas todas, ou instalam-me o canal Olympiakos em todas as posições da grelha.

SÁBADO
Ao sair de casa, deparo com uma tuna académica, que canta
"Homem caloteiro, a mim não me convém, eu não quero andar na rua, com as dívidas de ninguém..."

DOMINGO
Ao tentar regressar a casa, depois de uma noitada nos copos para afogar as mágoas, tenho a porta de casa barrada por 3 seguranças arguidos no caso "Máfia da noite", e outros dois, estes arguidos no caso "noite branca".
Dizem-me que só podem entrar casais e que tenho que pagar consumo mínimo, no valor da dívida do café.
Felizmente, a inteligência não é o forte deles e basta-me dizer que sou amigo do gerente para me deixarem entrar.

HOJE, SEGUNDA
Acordo de uma noite mal dormida. Olho-me ao espelho... estou com um ar absolutamente miserável.
E de risco ao meio...
Penso: " Isto é um nojo! Isto já enjoa!"
Telefono ao meu gestor de conta do BPN, e peço para me fazer uma transferência de 55 cêntimos, da minha conta nas Ilhas Cayman.
Vou ao café para pagar ao homem e parar com este tormento.
Entro, envergonhado, e sou recebido com um sorriso enorme uma sonora gargalhada. "HAHHHA. Olha o gajo....Atão, pá! Até que enfim, pá!! Ah quanto tempo! Foi dura hein? Saíste daqui com uma bebedeira tal, que nem quiseste receber os 5 euros de troco que tenho aqui para ti há uma semana!