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domingo, 23 de novembro de 2008

Vinde a mim o vosso Livro de Reclamações

Não tenho seguido o conselho do meu psiquiatra e tenho visto muita televisão portuguesa.

Só assim pude constatar que grande parte dos serões da RTP têm sido ocupados com a presença do Provedor do Telespectador.

A semana passada, mais de cem almas tinham-se queixado do sketch dos Gato Fedorento em que estes misturavam cantos religiosos e o computador Magalhães.
Esta noite, o Provedor falava às almas que tinham reclamado não ter havido imparcialidade na cobertura que a RTP fez às eleições americanas.

Tenho que vos confessar que uma das maiores ambições da minha vida é ver o Provedor da RTP usar uns bons minutos de antena pública, paga por todos os contribuintes, a falar sobre uma das minhas reclamações.

Basta reparar no lapso de tempo entre cada dois posts neste blog, para perceber que eu tenho muito para fazer. Tudo porque passo os meus dias a escrever cartas às estações de televisão, na esperança de obter alguma fama, via Provedor.

Enquanto ele não o faz, em jeito de diário, deixo aqui como foi passada a minha semana:

SEGUNDA-FEIRA:
Escrevi à RTP, reclamando do programa "Cuidado Com a Língua" ter um título impróprio para a hora a que passa (21h15)
(É que a essa hora normalmente já estou deitado e perderei certamente uma série de técnicas que poderiam melhorar a minha performance sexual)

TERÇA-FEIRA:
Revoltado com a exposição pública que estão a fazer de dois cidadãos deficientes, escrevo um email bastante "forte" à RTP.
A resposta é quase imediata. Os serviços da televisão pública explicam-me que Cláudio Ramos e José Castelo Branco são devidamente remunerados e que não são maltratados pelos seus treinadores.

QUARTA-FEIRA:
Escrevi à TVI a reclamar sobre o horário do Portugal-Brasil (à meia-noite).
Jogos com equipas treinadas por Carlos Queirós deviam obrigatoriamente passar a horas em que TODOS os portugueses estivessem a dormir.

Aproveito e escrevo à Federação Portuguesa de Futebol. Se naturalizámos o Pepe e o Deco e queremos fazer o mesmo com o Liedson e o Paulo Assunção, não podemos devolver o Queiroz à África do Sul?

QUINTA-FEIRA:
Embora aceite e compreenda que RTP 2 seja mais dedicada à cultura e aos países de língua portuguesa, escrevo-lhes a acusá-los de discriminação, por passarem tantas vezes repetições de golos do Brasil.
Respondem-me que não são repetições, que os golos foram todos validados.

Tomo uma lamela de viagras para me aguentar até as 2h45.
Cinco minutos depois, estou a escrever à SIC, acusando-os de publicidade enganosa. O programa "Todos em Linha" não era afinal, como eu esperava, uma biografia sobre Maradona.

SEXTA-FEIRA:
Escrevo à Worten, para me entregarem depressa o prémio dos Super Blog Awards. Na televisão que tenho, o écran não apanha o Fernando Mendes todo, no Preço Certo, na RTP.

SÁBADO:
Escrevo à TVI, acusando-os de discriminação e sexismo!
Para elas, à tarde, deram o "Babe - Um porquinho na cidade".
Mas para nós, homens, foram incapazes de se deslocar à Bairrada, capital do leitão, onde hoje vão escolher a porquinha lá da terra:

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Os irmãos Coen

Se os irmão Coen tivessem lido este post, o seu último filme não se chamaria "Queimar depois de ler" (no original "Burn after reading"), mas sim "Vomitar depois de ler" (Gregoriate after reading).

Sei que isto era suposto ser um blog de humor. Mas estou tão, mas tão revoltado, que, ao fim de 3 anos de existência do blog me vejo forçado a fazer aquele que, provavelmente, é o meu primeiro post sério!
A todos peço desculpa, mas tudo tem limites.

Numa altura em que o mundo inteiro atravessa uma crise económica (quase) sem precedentes, a RTP, uma televisão pública, no fundo paga por todos nós, contribuintes, e que devia fazer serviço público, despendeu, ontem, tempo, dinheiro e meios com uma reportagem no mínimo, chocante.

Na quarta-feira, num programa feito e torno da sua figura, esta... "senhora"...... esta "senhora", com desplante, gabava-se de viver com 400 euros por mês.

Num país que está em crise,com desemprego galopante, em que se passa fome, em que as taxas de juro aumentam todos os dias e em que grande parte das famílias não consegue liquidar as contas que lhe aparecem todos os meses (e apenas relativas a serviços básicos e essenciais), no qual muitos são obrigados a emigrar para poder ter comida, um mínimo de condições e sobreviver, há quem (uma gabarolas, certamente uma "nova-rica"), a gozar com o povo, se dê ao luxo de passar o dia a pensar em como vai esbanjar 400 euros por mês.
E a RTP dá cobertura a isto!

Desculpem, mas estou verdadeiramente revoltado!

Por macabra coincidência, exactamente no mesmo dia em que passava a reportagem sobre a luxuosa vida desta senhora, com um emprego trabalho que lhe rende mais de 2 euros à hora, felizmente também foi notícia um verdadeiro sofredor, um dos tais portugueses que teve que emigrar como única forma de alimentar os seus, um tal de Zé Mourinho, que, em resposta a um jornalista que dizia que lhe indicava a equipa que devia jogar se ele lhe desse um bocado dos miseráveis 9 milhões de euros que ganha por ano, o nosso Zé, pobre mas honrado, respondeu "Não são 9 milhões, são 11. E com a publicidade pode chegar aos 14 milhões!".

Reparem na diferença. Um homem pobre, do povo, no limiar da pobreza, que assume o pouco que ganha e a sua suada profissão.

Revoltado com tudo isto, decido pegar na ideia da RTP e fazer um programa idêntico, com o pobre e necessitado José Mourinho. Para retratar, com lealdade, os problemas porque passam milhares e milhares de portugueses (e não uma raríssima minoria, como a "Miss Joe Berardo" do programa da RTP).

O meu programa acompanhou um dia na calejada vida do emigrante José Mourinho.

Dia 1, dia de receber o ordenado. Acompanho José Mourinho ao Multibanco, para ver como gere ele as suas finanças e como conseguirá alimentar as bocas esfomeadas que tem em casa, com o insignificante (e quase transparente) milhão de euros que tem disponível por mês.

José Mourinho (JM) - "Bem, aqui estamos, no Multibanco.... vou fazer uma consulta de movimentos..."
Repórter (R) - "..."

JM - "Desculpe... não trouxe os óculos... pode-me ver que números pequeninos são estes aqui?"
R - "...Claro! Hmm... 910.000 euros... transferência de ordenado"
JM - "Filhi di putani! Mato-me a trabalhar, longe do meu país, a pôr gajos a correr duas e às vezes até 3 horas por semana, para isto..."

JM - "E isto aqui? E isto aqui?? Estes números muito pequenos???"
R - "135.800 euros... crédito de juros do mês anterior.."
JM - "Sacanas! Mafiosos xupistas! Como é que eu posso pagar a escola dos miúdos com isto?"

R - "Ah, não estão numa escola pública...?"
JM - "Que estupidez! Mas você é português, ou quê?!? É privada! Comprei uma escola só para eles!"

JM - "E isto? E isto? Também são números??? Estes gajos dos bancos são piores que os dos seguros!!!"
R - "12.500 euros... cabeleireiro"
JM - "Oh, Matilde! Mas quantas vezes é que eu já disse àquela mulher para usar o porta-moedas multibanco para despesas pequeninas???"