Notícia fictícia

Para além de consagrar uma rima verdadeira espectacular, o título deste post tem uma razão de ser.

O jornal gratuito "Global" contemplava, numa das suas edições desta semana (mais concretamente a de quarta-feira), uma notícia sobre um idoso de 77 anos que agrediu a mulher e se matou.

Reza assim o texto original:

"Um homem de 77 anos atacou ontem a mulher, de 69 anos, à martelada. Depois de lhe desferir uma violenta pancada na cabeça, o agressor ingeriu ácido para se suicidar. O casal foi encontrado em estado considerado grave em casa, nas Caldas da Rainha.
Os dois foram transportados ao hospital local. Mário (nome fictício) não resistiu e acabou por morrer. Lurdes (nome fictício), gravemente ferida, foi transportada para um hospital de Lisboa e permanecia, ao final do dia, a lutar pela vida.
Ontem, a PJ de Leiria ainda desconhecia as razões que levaram à agressão e ao suicídio".

Confesso que não compreendo estes critérios jornalísticos.

Se fosse o Jornal "24 horas", provavelmente teria feito uma extensa reportagem sobre a (séria, para eles) possibilidade de o homem se tratar de uma derivação do tubarão-martelo, um homem-martelo.

Já o Jornal "Global", que, nalguns artigos, não tem pejo de indicar o nome e até morada de pessoas que são apenas suspeitas (vd., por exemplo, o casal MacCann), acha, agora, por bem, tratar por nomes fictícios duas pessoas perfeitamente identificadas num caso concreto e para o qual não restam dúvidas (à excepção do motivo).

Se o jornal levar para frente este tipo de postura, de querer dar uma notícia, mas ficcionar nomes, para ser coerente deverá passar a ficcionar, também, os factos.

E seria assim, a mesma notícia, daqui a uns tempos, no Jornal "Global":

"Um escaravelho (espécie fictícia) de 14 anos (idade fictícia) atacou ontem a prima (familiar fictícia), de 36 anos (idade fictícia), à facada (arma fictícia). Depois de lhe desferir uma suave (brutalidade fictícia) pancada nos joelhos (parte do corpo fictícia), o agente da autoridade (interveniente fictício) ingeriu água (líquido fictício) para se embebedar (reacção fictícia). O vizinho (interveniente fictício) foi encontrado em estado considerado normal (estado fictício) no jardim (local fictício), na Outorela (zona fictícia).
Os cinco (número fictício) foram transportados ao complexo desportivo (estabelecimento fictício) da localidade vizinha (vila fictícia). Mário (nome fictício) resistiu (resistência fictícia) e acabou por se manter vivo (estado fictício). Lurdes (nome fictício), ilesa (gravidade fictícia), não chegou sequer a ser transportada (transporte fictício) para a Feira do Livro (estabelecimento fictício) de Cucujães (localidade fictícia) e já tinha tido alta (permanência fictícia), ao final da manhã (horário fictício), a lutar pela morte (estado fictício).
Amanhã (dia fictício), a GNR (polícia fictícia) de São Bartolomeu de Messines (localidade fictícia) já sabia (conhecimento fictício) as razões que levaram à amizade (carinho fictício) e ao homicídio (crime fictício)".