sexta-feira, 20 de abril de 2007

Mr. Shirt molhada

Hoje de manhã apanhei uma chuvada descomunal.

É óbvio que não sabia do guarda-chuva.

Cheguei ao emprego completamente encharcado e a pingar. Aguentei a manhã toda com a camisa colada ao corpo. Talvez ainda vá ficar doente à conta disso, mas, para já, o que estou mesmo é irritado, muito irritado! Mesmo muito irritado.

Parece, pois, a melhor altura para escrever, de forma totalmente isenta e imparcial sobre.... o engenheiro Fernando Santos.

O texto é capaz de sair longo. Mas arrisquem e não desistam. Todos sabemos que não sairá daqui um texto sério, nem um tratado sobre futebol.

Para os benfiquistas, pior que a tempestade desta manhã, foram as capas dos jornais desportivos. Títulos como "Fernando Santos garante que vai continuar no Benfica", com o próprio a reforçar com um "DAQUI NÃO SAIO" e um jornal a acrescentar "e parece que ninguém o tira" deixaram os adeptos da Luz não somente constipados, mas doentes e de cama. Uma doença que, pelos vistos, se vai prolongar pela próxima temporada inteira.

Mas é também uma doença o factor que pode vir a dar a volta a esta arrepiante história.

Parece que a convicção do engenheiro de que vai ficar no Benfica terá resultado do apoio expresso que lhe deu o Presidente Luís Filipe Vieira, numa reunião que tiveram... no hospital, onde Vieira está (nesta altura já é estava) internado com uma pneumonia.

Ora, nesta altura certamente que qualquer advogado da oposição com um mínimo de 1 dedo de testa já terá feito entrar no tribunal uma providência cautelar para anular a decisão do Presidente benfiquista, alegando que a mesma terá sido tomada em estado de incapacidade mental, originada por erro médico.
Facilmente se defenderá que os médicos lhe terão curado a pneumonia e limpo os pulmões, mas, que, por negligência, descuido ou pura diversão, ter-lhe-ão obstruído os canais de irrigação do cérebro.
Só assim se compreende a intenção de manter Fernando Santos.

Para perceber um pouco o que se está a passar com a equipa do Benfica, vamos recuar um pouco no tempo, para perceber como é que o engenheiro Fernando Santos chega ao clube.

A história não deixa de ser curiosa.

De facto, Fernando Santos não constava do leque de treinadores que se candidataram a treinar a equipa na época em curso.

Numa altura em que nos cofres do clube a Luz estavam cheios (mas de dívidas e não de dinheiro), a Direcção percebeu que não teria capacidade financeira para contratar um treinador de gabarito.

A solução teria, obrigatoriamente, que passar por escolher um homem da casa.

Mas mesmo essa solução interna custava dinheiro.

Foi então que alguém descobriu, no Departamento de Recursos Humanos, o curriculum de Fernando Santos.

Curiosamente, Fernando Santos não havia mandado o seu c.v. para o lugar de treinador. O documento estava lá desde os tempos da construção do novo Estádio da Luz.
O seu projecto fora eliminado pois mesmo como engenheiro Fernando Santos já demonstrava muita teimosia e enormes receios. Daí se compreende que a sua proposta de projecto para o novo estádio consistisse num relvado com um único degrau à volta... Nada de bancadas, apenas um degrau.
É óbvio que tal proposta foi eliminada, mas o curriculum por lá ficou.

E, chegada a altura de escolher um novo treinador, acabou por ser essa a opção da Direcção.

Para tentar acalmar os sócios, desde logo não se deu grande referência ao seu percurso como treinador. Realçou-se, isso sim, e muitas vezes, o facto de Fernando Santos alegar que é um benfiquista dos 7 costados.

Na altura (como ainda agora), o engenheiro Fernando Santos não percebia nada de futebol.
Mas, apesar dos seus muitos e constantes medos de arriscar, lá terá pensado: "Bem, a equipa está em CONSTRUÇÃO, há lá UM ANGOLANO, UM RUSSO, BRASILEIROS... não deve ser muito diferente de dirigir uma obra!!!!". E lá aceitou.

Para tal terá contribuido também a situação de Fernando Santos nessa época. A Ordem dos Engenheiros tinha-lhe posto um processo disciplinar e suspenso a sua cédula profissional, como resultado de queixas da SOS Racismo e da Inspecção Geral do Trabalho, que o tinham acusado de, numa obra, só pôr a trabalhar o Mantorras nos últimos 5 minutos.

A primeira grande tarefa da Direcção foi tentar convencer Fernando Santos de que não podia jogar com 16 defesas. "São só 11 jogadores e ponto final" foi frase ouvida diariamente (e várias vezes ao dia), por aquelas bandas.

Ainda não muito convencido, Fernando Santos lá terá pensado: "Se não é para jogarem, mais vale vendê-los". Explicam-se, assim, as vendas de Ricardo Rocha e Alcides na mesma altura, tendo então o Benfica ficado praticamente só com os 4 defesas titulares (3 deles juntos com o tamanho do outro), para atacar 3 competições.

Julgando ter percebido, Fernando Santos veio então dizer, à imprensa, que pretendia ter um plantel de 24-25 jogadores. E, já que não os podia pôr a todos na defesa, jogariam todos no meio campo. "São só 11 jogadores e ponto final" foi novamente ouvido.

Não estão aqui em causa as capacidaes de Fernando Santos como engenheiro. Apesar dos seus muitos receios, poderia perfeitamente levar toda uma vida a, ao invés de fazer prédios, construir apenas casitas pequenas, só de piso térreo.

Mas isso, no futebol, não dá.

Aliás, tenho para mim, que o futebol não é para doutores e engenheiros. Fernando Santos nem é caso único. Reparem nos outros exemplos.
- O PROFESSOR Jesualdo Ferreira, é o mero guarda-redes suplente do F.C.Porto, treinado por Vitor Baía;
- O PROFESSOR Manuel Machado acaba de ser despedido do Nacional;
- O PROFESSOR Neca é o treinador do Aves... o último classificado.
Já no topo da classificação, estão homens sem habilitações académicas: o já citado Vitor Baía, o luso-espanhol Paulo Bento e o machus lusitanus Jorge Jesus.

É preciso não eequecer que as equipas são, regra geral, formadas por jogadores muito jovens, a maior parte deles sem instrução, que passou a infância a correr atrás da bola.

É, pois, tarefa ingrata querer pôr um engenheiro a formá-los. "Fugi eu da escola e tenho agora que estar aqui a levar com isto? Sei lá como é que se forma um losângulo no meio campo, fazer triangulações e diagonais ou fazer passes com régua e esquadro..."

Do mesmo modo, difícilmente um ex-jogador de futebol conseguiria pôr serventes a trabalhar em 4-4-2, a desdobrarem-se num 4-3-3 aquando das obras no exterior e/ou a passarem para um 5-4-1 quando sob a pressão do andaime.

A escolha do engenheiro de facto, acabou por ser barata. Mas os resultados, são os que vocês já sabem.

Depois de quase um ano, o único argumento a favor de Fernando Santos continua a ser o facto de dizer que é um benfiquista ferrenho.
Mas nem isso é verdade. Se fosse realmente benfiquista, ter-se-ia mantido a treinar o Porto, ou o Sporting.

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