quarta-feira, 4 de outubro de 2006

O humor (tá) negro

Anda difícil a vida de humorista.

Na Dinamarca, um cartoonista fez umas figuritas sobre Maomé e ia eclodindo a III Guerra Mundial.

Por cá, o panorama não está melhor.

O Jornal Record passou a publicar um artigo semanal de opinião, expressamente designado por "Opinião - Humor", a cargo de Miguel Góis, um dos membros do colectivo Gato Fedorento.

A crónica do Miguel Góis, da semana passada, continha, como sempre (e como lhe compete), alguns comentários humorísticos sobre o panorama futebolístico nacional.

Entre eles "É claro que eu digo isto, mas acredito nos árbitros portugueses. Acredito, por exemplo, que os dirigentes da APAF (N.R.: Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol) têm imensa vontade de expulsar da associação todos os árbitros corruptos. O problema é que, se o fizerem, não fica lá ninguém para atender o telefone" (sic).

Na semana seguinte, lá estava publicada uma carta de protesto, escrita pelos profissionais da APAF, "repudiando as insinuações gratuitas e insultuosas, já que o "ninguém" é gente que, desde sempre tem dado o seu melhor, com brio, dignidade e dedicação em prol da Associação" (sic). E dizem, ainda, que Miguel Góis não mediu as palavras, que não devia brincar com coisas sérias, e que ofendeu, que faltou ao respeito, atingiu, magoou e chocou aos profissionais da APAF.

Logo de seguida, estava publicada a resposta de Miguel Góis, que, ao fim de 8 anos a viver dos seus rendimentos de humorista, se viu obrigado a escrever a sua primeira crónica séria, para lhes explicar o que significa humor, que fez uma piada e não um texto jornalístico, e que a crónica fala nos árbitros corruptos e não nos profissionais da APAF. É, aliás, o que lá está escrito.

Com a devida vénia, reproduzo, aqui, o penúltimo parágrafo da resposta: "Estou consciente que, em Portugal, há muita gente que tem dificuldade em descodificar um texto humorístico, ao ponto de ler a piada de forma completamente denotativa e por isso correr o risco de nem sequer se perceber quem é que a mesma pretende atingir. Mas quando se está a escrever um texto humorístico é impossível prever a forma imprópria como algumas pessoas o vão interpretar, tal como seria caricato explicar no texto a forma correcta de o fazer".

Caro Miguel Góis, faço minhas as tuas palavras.

Resalvando a diferença de divisões em que jogamos (já que estamos a falar em futebol), acabámos de receber um comentário a um texto nosso, feito pr alguém que, além de não se identificar, não percebeu a piada. Ou a falta dela. Mas isso, seria caricato explicar no próprio texto.

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