terça-feira, 24 de outubro de 2006

Actores dos Morangos com Açucar presos?!?

Confesso que quando vi, no jornal de ontem, o título da notícia "'Cromo' é insulto punível em Tribunal", fiquei, obviamente, extasiado. Mas, no fundo, também algo desconfiado, dificilmente podendo crer que tal sonho se tivesse tornado realidade.

Extasiado porque, com a mente iluminada e radiante de ter interpretado (ou melhor, de ter desejado interpretar) que o título em causa quereria dizer que, a partir de agora, os cromos que todos conhecemos iam passar a ser multados por serem assim. Ou, inclusivamente, a poderem ir dentro. Preferencialmente, para uma solitária.

E, naqueles míseros (mas que me pareceram infindáveis) micromilésimos de segundos, consegui vislumbrar toda uma série de cromos indesejáveis atrás das grades.

Agora que penso melhor, tal interpretação (ou desejo) só foi possível por não ter recuperado ainda, adequadamente, do fim-de-semana, e pelo facto de ser segunda-feira.

Lamentavelmente, é óbvio que, ao ler o corpo da notícia, as minhas piores suspeitas se concretizaram e verifiquei, com profunda tristeza, que tudo não passara duma ilusão.

Afinal, a (pura e dura) realidade é que, a partir de agora, não podemos (nenhum de nós) chamar cromo a ninguém.

A "ofensa" é coisa por custar 450 euros por cada "ofendido".

Tudo porque os juízes do Tribunal da Relação de Coimbra decidiram aplicar uma multa de 900 euros e pena acessória de 50 dias de prisão a um pobre sujeito que, ao receber, na sua residência, a visita de dois agentes da GNR, que iam averiguar se ele teria estado envolvido num acidente de viação, os recebeu com um educado: "vocês são uns cromos".

Os susceptíveis agentes apresentaram queixa.

Contra os argumentos do pobre homem, que defendia que "cromo" era sinónimo de "bom estudante, aplicado, inteligente, esperto" (no fundo, o ideal para definir - sem ironias - agentes da GNR) e que também poderia ser utilizado para definir "aquela pessoa que atingiu notariedade" (o que, convenhamos, também não deixava de ser correcto, pois, nota(rieda)va-se bem que os agentes tinham a nariguenga vermelhusca, aquecida pelo tinto...), o tribunal decidiu que o arguido quis antes ofender os agentes, chamando-os, de modo sub-reptício, de parvos, palhaços, idiotas e ridículos.

Considerou o Tribunal, que ao chamar "Cromo" a alguém comete-se o crime de injúria (previsto no artigo 181º do Código Penal), ofendendo-se a consideração, a reputação e a auto-estima da pessoa (auto-estima duma pessoa e agente da GNR na mesma frase???).

Resumindo: como eram 2 agentes e a multa foi de 900 euros, cada "ofensa" fica avalidada em 450 euros.

O que, convenhamos, é caro para a palavra "cromo".

Não querendo ofender os Exmos. Senhores Doutores Juízes do Tribunal da Relação de Coimbra, não posso concordar em absoluto com a sua interpretação da expressão "cromo" que, se por um lado pode significar a tal "ave rara", também pode abranger as definições dadas pelo arguido.

Sem ser para extorquir dinheiro a outrém, não sei se haverá realmente alguém que se possa sentir, de facto, realmente injuriado ou ofendido (na sua reputação) pela palavra cromo.

Há também aqueles que se gabam de o ser (os da bola) e aqueles que até fazem questão de ser tratados como tal: apenas a título de exemplo os "Cromios" dos Morangos com Açucar (se é só um desculpem. Como não vejo a série, perdoem-me a ignorãncia...).

Como eles são muitos, não vou chamar os bois pelos nomes, porque a 450 euros cada um custar-me-ia para cima de um dinheirão.

O que eu acho é que o Tribunal devia era ter aproveitado para fazer já uma elencagem de tudo aquilo que constituisse ofensas a terceiros e estabelecido o custo de cada uma dessas ofensas.

Para podermos fazer contas à vida, quando queremos chamar "pessoa" a algum cromo.

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